sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

É então isto para crianças?

Nem sempre formulada da mesma maneira, esta é uma pergunta que ouvimos com frequência no Planeta Tangerina. Por vezes, a interrogação vem acompanhada por um certo espanto, uma espécie de revelação: "mas se eu gosto disto, como é que pode ser para crianças?"; outras, carregada de dúvida "mas têm a certeza de que isto é para crianças?"; outras ainda, a pergunta deixa mesmo de ser uma pergunta para se transformar numa afirmação um pouco indignada: "desculpem lá, mas isto não é para crianças".

Ora essa, não tem nada de pedir desculpa.

A verdade é que esta questão tem muito que se lhe diga, também gostamos de pensar nela e até já lhe dedicámos um texto, há uns tempos, num dos nossos catálogos.

“Para quem são os livros do Planeta Tangerina?" 
Nunca sabemos muito bem que resposta dar, porque a verdade é esta: sabemos que os nossos livros não são os clássicos livros para adultos (romances e afins), mas conhecemos muitos adultos, de perfeito juízo, que compram livros do Planeta Tangerina para oferecerem a outros adultos. 
Achamos que não é pelo facto de um livro ser ilustrado que deve (ou não) ser considerado para crianças. Não pensamos num leitor específico, quando estamos a trabalhar. 
Pensamos no mundo, nas coisas que nos emocionam, nas que são misteriosas ou que nos fazem rir, mas não num público em concreto... Custa-nos, aliás, aceitar que os livros tenham uma idade certa ou errada. Acreditamos mais que devem ser criados livremente e lançados ao ar. Quem os apanhar e gostar... é o leitor certo! 

O que acontece é que há muitas maneiras de nos fazermos ao mergulho, muitas maneiras de nos atirarmos à água:

Primeira pergunta: Porque vais mergulhar neste mar e não naquele?

Resposta (hesitante): Porque é para aqui que o meu corpo se inclina todo.

Segunda pergunta: Olha que pode haver piranhas, lodo... Tens a certeza de que há pé?

Resposta (gaguejante): Nem sempre... Mergulhamos aqui porque alguma coisa nos chamou. E pode ter sido um peixe quase transparente que vimos passar muito depressa, nada mais do que isso.

Terceira pergunta (muito, muito frequente): E pensam nas crianças quando estão a fazer os vossos livros?

Resposta politicamente correta: Claro que sim. As crianças estão sempre no nosso pensamento. Elas inspiram-nos todos os dias. Testamos todos os livros com elas e só os publicamos se elas nos sorrirem com os dentes todos no final.

Resposta sincera: Quase nunca. Podemos pensar em nós próprios, quando éramos crianças. Podemos lembrar-nos de pormenores das crianças que conhecemos. Podemos até ser inspirados por qualquer coisa que ouvimos uma criança dizer. Mas na altura de meter mãos à obra, criança não entra.

Quarta pergunta: Conhecem o alvo para o qual estão a trabalhar?

Resposta: Os leitores não são um alvo. Os leitores são atingidos todos os dias por toda a espécie de mensagens e precisam de descanso. Os livros é que devem ser o alvo dos leitores: tens bom aspeto, já te faço a folha, vou atirar-me às tuas páginas.


(Na foto: o Simão, no stand da Feira do Livro de Lisboa, agarrado a um livro que chamou por ele.)

Só uma nota final: quando começámos a trabalhar, a maior parte do trabalho que fazíamos tinha um ponto de partida diferente daquele que tem um livro. Tinha briefings, objetivos de comunicação, alvos muito concretos. E esta não é uma abordagem melhor ou pior, acontece apenas que com os livros o mergulho é diferente: um pouco mais às cegas, um pouco mais arriscado, um pouco mais espontâneo e, claro, de corpo inteiro... não há cá só pontinhas dos pés.

Tudo isto para dizer que é mesmo de não perder o colóquio comissariado por Inês Fonseca Santos que vai juntar na Gulbenkian criadores que trabalham para a infância, reunidos à volta da questão “o que é afinal uma criação para a infância?”.

Dias 9 e 10 de Fevereiro, a falar sobre livros, música, filmes e espetáculos estarão Serge Bloch, Davide Cali, João Fazenda, Catarina Sobral, Regina Pessoa, Afonso Cruz, B Fachada, Susana Ralha, Susana Menezes, entre muitos outros.

Vejam aqui o programa completo.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Cem livros ilustrados de todos os tempos e lugares





Martin Salisbury é professor na Cambridge School of Arts e tem sido um dos grandes investigadores do álbum ilustrado. Depois de "Children's Picture Books —The Art of Visual Storytelling", que se debruça sobre a arte de contar histórias através das imagens, e "Playpen", dedicado a alguns dos novos nomes da ilustração, está quase a sair "100 Great Children's Picture Books", uma viagem pelo mundo dos livros ilustrados desde o início do século XX até aos nossos dias, onde podemos encontrar alguns dos títulos mais representativos de cada década, da autoria de artistas que são hoje grande clássicos, como Peter Newell, Bruno Munari, Leo Lionni, Edward Gorey, Tomi Ungerer, Kveta Pacovska ou Maurice Sendak.





Entre os livros da última década, Martin Salisbury escolheu, por exemplo, obras de Beatrice Alemagna, Kitty Crowther, Violeta Lopiz, Jon Klassen... e ainda um livro que, inevitavelmente, chamou a nossa atenção: esse grande clássico que se chama "Praia-mar", da autoria de Bernardo Carvalho, editado pelo Planeta Tangerina em 2011.

Uma edição Laurence King, para conhecer um pouco melhor aqui.


segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Miguel Esteves Cardoso sobre o "Lá Fora"

O grande MEC rendeu-se ao "Lá Fora"...
(e nós ficámos babados, claro!)


Lá Fora já é um livro sobre o mundo. Ser um original português é uma sorte para nós.

Como se chama quando se pega num livro destinado às crianças e se descobre, em cada página, uma coisa que não se sabia? Chama-se um milagre: um livro científico que estimula quem o lê e vê, tornando um prazer numa aprendizagem.

Ler mais no Público deste sábado que passou.